A ficção cientifica têm muitas vertentes, mas aquela focada na exploração do espaço, gosto demais e para mim na certa é o pessoal da serie original do Jornada nas Estrelas que abriu a porta. E olha que logo mais na época, surgiu o Guerra nas Estrelas, segunda metade dos anos 70, revolucionário, fantástico, fiquei embasbacado e depois decepcionante na trilogia final, vale um PQP.
Mas do Jornada realmente não perdia episódio, aquela coisa de novos mundos, culturas, raças, perigos, aventura, dobra espacial (problema resolvido) era demais. E não foram apenas esse dois que moldaram o gosto, teve o Contatos Imediatos de Terceiro Grau, o imbatível Os Eleitos, Taken, 2001 Uma Odisseia no Espaço de Arthur C.Clark (sem ordem cronológica), aquele filme no qual há apenas o silêncio com o movimento das espaçonaves, eram os caras.
Lógico isso tinha que refletir nos diversos jogos de tabuleiro no tema que tenho, meu favorito é sem duvida o Race for the Galaxy, lá de 2007 de Thomas Lehmann, e têm muitos outros. E ai no ano passado (2023) fui dar uma olhada em jogos sobre exploração espacial e deparei com o Leaving Earth de 2015, autor Joseph Fatula, achei incrível, deparei com algo muito interessante e diferente. O jogo tinha um Q de exploração incrível, testar foguetes, tecnologias, acompanhando a cronologia da corrida espacial desde os anos 50. Você precisa fazer cálculos para cumprir os objetivos, têm ali algo de desafiador, o aleatório faz parte e é muito bem vindo, afinal pode terminar em fracasso, há riscos e as cartas de teste fazem isso.
Li muito sobre esse jogo e realmente curti, simplesmente porque não têm mágica, o foguete precisa ser capaz, precisa ser preparado, não é apenas mover o mesmo, típico da grande maioria dos jogos (afinal não foca nesses aspectos), mas era algo que cria fortes limites e o pano de fundo, a fascinante história que está sendo escrita ainda hoje e vai muito longe, afinal estamos só no primeiro passo da exploração do sistema solar.
Em paralelo e para engordar ainda mais o assunto, me aprofundei muito sobre a astronáutica, livros, matérias sobre muito do que é publicado a respeito, documentários, têm ainda alguns canais especializados como o Expansão Astronauta, Real Engeneering, EveryDay Astronaut além de muitos outros. E mesmo com tudo isso, a história não acaba nunca, alias é o que fascina, isso faz o Tico e Teco entrarem em ebulição.
Tico e Teco
Esse dois neurônios quando ficam agitados, são a mola mestra para criar. Tinha que partir de um ponto, então primeiro começando com brianstorming, uma puta lista de assuntos (faça você um exercício, começa a pensar sobre o assunto e logo você têm uma lista absurda), depois desenha uns quadrados, faz uma peças estranhas (tipo foguete, estágios), começa a misturar e nessa surgiu um mecanismo para fazer um foguete subir, voar, entrar em órbita, executar missão, reentrar e pousar. E olha que foi rápido chegar nisso, mas embora tenha um elevado grau de tensão, não era bem o que eu queria....ainda falta o desafio.
Para o teste inicial o jogador enfrenta dificuldades (DIF) que resolve com expertise (EXP), ou seja, a manobra resulta em DIF, que são resolvidos por EXP dos astronautas e o comando da missão, há fator aleatório envolvido para ver o cara se ferrar...e isso ficou bacana, tenso também...mas faltava o desafio, tinha que haver algo a mais.
Então o problema era o foguete, a equação do foguete, a massa, a terceira lei de Newton, vamos então aprender um pouco mais sobre impulso, empuxo, combustível sólido, liquido, hipergólitos, criogênicos tipos de propulsores, turbo bombas, massa de lançamento, massa de combustível, massa útil para LEO, GEO, transferência interplanetária, injeção lunar, manobra de Hohmann, manobra de Oberth, ponto Lagrenge, translação, rotação, motor de chute,.....cara isso é monstruoso, têm ainda toda a mecânica celeste, gravidade, radiação solar.....só louco para fazer isso de verdade, parabéns, vocês são demais (engenheiros, cientistas, astronautas, físicos).
O problema é que não sou nenhum destes, mas preciso entender um pouco de tudo para chegar onde quero nesse jogo. Então se falar em massa de lançamento (ML), vou realmente somar a massa do lançador, orbitador, massa de combustível em cada estágio, massa da carga a ser lançada. Na situação então tenho um contrato que diz que o satélite de massa de 150 kg deve ser lançado em determinada altura em LEO (órbita baixa da Terra), digamos 160 km, ai é nessa etapa que entra outra montanha de cálculos para ângulo de lançamento, se vai ser órbita polar ou o que????....aqui limitei a coisa a massa de lançamento em detalhes, a altura a ser lançado e distância a percorrer.
Então preciso calcular qual o empuxo para fazer isso sair da superfície da Terra e chegar no ponto que preciso conforme contrato, o jogador vai ter que calcular, então meu caro....calculadora na mesa.
O tempo de impulso para cada lançador, orbitador é arbitrado para cada peça, assim como a potência da cada foguete, o tanto de combustível, não sem fazer pesquisa e buscar a proporcionalidade entre o que é real e o que é usado em cada foguete do jogo. Aqui tomei a liberdade de estar em 2040 e ter alguns ganhos substancias em desempenho de propulsores e combustíveis, já há propulsores nucleares e iônicos (já muito comuns hoje).
Essa tabela é sobre lançadores e orbitadores de propulsão
química. São dados usados para elaborar e calcular a missão.
Fazendo os cálculos, você sabe se consegue executar a missão e colocar o satélite na posição, é simples assim. O cálculo do empuxo vai me dizer qual a potencia de propulsor para lançar a ML, considerando a gravidade ao nível do mar.
Com o cálculo do empuxo, sabendo dos demais dados do foguete necessário (vide imagem acima), sei então qual o tempo de impulso, e isso me dá a distância que eu consigo lançar a ML. Por fim tendo isso posso determinar se a velocidade obtida é a necessária para manter o satélite na órbita, algo de 8km/s, ou seja falamos de 28.800 km/h, menos que isso você desce em algum momento.
Esse era o ponto, ai foi onde cheguei e fiquei satisfeito, não há nenhuma matemática complicada aplicada ao jogo, é divertida, têm base em física de forma simplificada, como o cálculo de velocidade, que serve para obter diversos dados.
Sabendo da factibilidade da missão, arruma tudo para lançar o foguete, caso não houve-se esse resultado, o jogador é obrigado a construir um novo lançador ou orbitador, que tenha a capacidade, isso implica em atraso, custo e testes para fazer o novo foguete funcionar.
Então agora tenho foguetes, missões, cálculos de factibilidade, riscos e para dar uma ideia, na partida atual que estou simulando, que já têm algo de vinte missões, houve uma perda catastrófica de um orbitador e uma falha de pre lançamento que causou o cancelamento da missão, então é promissor, mas há risco sim, o que torna tudo divertido.
Já simulei vou até a Lua com um foguete de três estágios, Marte ainda não, foguetes nucleares ainda não nem os iônicos de alta performance (ficção no jogo). Têm então contratos, colonização, exploração, pesquisa cientifica, desenvolvimento de tecnologias, que ficou bem bacana. Ai como pano de fundo há bases, colonias inicias na Lua e Marte, início da exploração de recursos, sustentação da vida, novos desafios indo mais longe, primeiro ao cinturão entre Marte e Júpiter, onde está o planeta anão Ceres.
Aqui o tabuleiro da superfície de Ceres com
o vulcão criogênico Kupalo, cada marcação é um tipo
de exploração, cujo custo e risco é variado.
Aqui o espaçoporto chamado Porto Marte.
Você está no comando de uma companhia de lançamentos espaciais, faz parte de uma joint venture chamada Cursino, com outras companhias que no entanto competem pelo mercado. NASA, ESA, JAXA, Roscovo, Space X, Blue Origem estão lá no cenário, formando outros conglomerados.
O que motiva o jogador são contratos de movimentação de cargas, tripulações. Para cumprir esses o jogador deve preparar missões, que levam a pontos diferentes como a Lua e Marte. O risco para lugares mais distantes é maior que lançar cargas na órbita da Terra, e correr esses riscos resulta na pontuação maior. Esse é conceito básico, têm muitas variáveis, mas um sintaxe de funcionamento é comum . Para ajudar a resolver muitos dos problemas, há tabelas como essa abaixo para determinar distâncias de trajetórias, outra para janelas de lançamentos, não há limites no desenvolvimento
Esse gráfico é usado para identificar
órbitas, distâncias a percorrer
e a variação gravitacional.
Bom de momento é isso, o texto ficou longo, afinal é muita coisa desenvolvida, e muito a desenvolver, o tema é amplo sem precisar ir muito fora da realidade atual, é ficção mas o próximo passo está logo ali, esse diria que é o norte desse jogo.
abraço!