Bom, mas é esse título?.... explico!..... não é o primeiro e nem será o último jogo a explorar a história, mas ao trazer a história como tema para um jogo, é preciso pesquisar.
O projeto já é antigo, comecei, parei, recomecei e parei novamente. A cada parada havia dado um passo a mais, mas ficava descontente com o andamento do projeto, afinal havia tentado obter informações junto às forças armadas. mais precisamente junto ao exército, não obtive resposta.
Durante as diversas pesquisas vasculhei muitos sites, com variadas informações coletadas e por fim imprecisas e até conflitantes. Dou um exemplo, dos diversos mapas que consegui encontrar, a posição e as tropas envolvidas está diferente, agora vai criar um jogo deste jeito!... pensei (as vezes faço isso!!...rs) bom quem participou dos eventos já faleceu faz muito, poderia fazer algo parecido e vender o peixe... afinal quem iria duvidar ou discutir os fatos... quem??... quem?? ... .EU!
Bom a cada novo avanço, o projeto foi amadurecendo, o visual estava bacana, o sistema de combate também, o projeto parecia tomar rumo. Foi quando um dia destes, junto a um tópico aqui no blog, um cidadão fez algumas perguntas sobre o jogo apresentado. Para mim não era novidade, afinal muita gente me passa emails, faz comentários no blog e foi o que se passou.
Recentemente este tópico que já estava ficando para trás, recebeu outro comentário, que depois percebi ser da mesma pessoa que anteriormente havia comentado e perguntava sobre o desenvolvimento do jogo.Também deixou um link para a Legião de Infantaria do Ceará.
Lógico, fui conferir e é fácil ver que é um site voltado para militares e dei aquela vasculhada, percebi que o negócio é organizado, quem preside e dirige a atividade são militares da reserva.
Achei curioso e passei a trocar emails com o Júlio, que tinha visitado meu blog. Foram diversos emails e ele me explicou que o Legião de Infantaria do Ceará é uma organização civil, que têm foco na história militar e na pessoa do Brigadeiro Antônio de Sampaio, patrono da arma de infantaria do Exército Brasileiro.
Rara oportunidade, estar conversando com alguém que pesquisa e é bem envolvido com a história militar. O jogo também era tema das conversas, e por meio do Júlio, que têm acesso a informações bem detalhadas da Guerra do Paraguai, de toda a campanha brasileira naquela guerra, comecei a receber informações e dados de suma importância para recriar em um jogo a Batalha de Tuiuti.
Painel alusivo a batalha na AMAN
Contexto
Todos nós estudamos nas aulas de história de forma resumida, a Guerra do Paraguai foi provocada por Solano Lopes que queria acesso ao mar e resolveu atacar Brasil, Uruguai e Argentina, um pacote só e completo... tomar territórios e garantir um porto oceânico para suas exportações. O Paraguai do Século XIX era outro assim como o Brasil, Argentina e Uruguai ( este último era recém separado do Brasil, fruto da chamada Guerra da Cisplatina).
O Paraguai tinha uma economia relativamente forte, impulsionada pela produção têxtil, ...cara pensa nisso..., pisaram no calo da Inglaterra a dona do mundo naqueles tempos, a senhora que pregava o liberalismo e era a grande produtora e exportadora de produtos têxteis. Bom ai vieram as maquinações e por fim, estrangular a economia de um país sem mar não é tão difícil assim. Bastava criar problemas na bacia do Prata, onde o rio Paraguai desagua no mar, resolvido.
Diante destes fatos, N interesses o Paraguai sai no braço, munido de um exército de certa forma equilibrado, bastante nacionalismo e sinceramente bastante estupidez. Mas é preciso observar, não com os olhos e na nossa atual conjuntura, o cenário, o pensamento e ideias da época eram outros. Afinal muitas destas regiões eram pouco povoadas, no caso do Brasil, um gigante, mas que nem de longe podia guarnecer de forma apropriada todas suas fronteiras.
Avanços Paraguaios mobilizações nos países atacados e com o tempo a resposta militar. A batalha do Riachuelo, pôs fim a marinha Paraguai .Sem o apoio naval, estes recuaram de onde não foram expulsos e cruzaram o rio Paraná na confluência com o rio Paraguai e estabeleceram fortificações em áreas que são planícies fluviais. Conhecidas como chaco, vastas áreas de terra relativamente planas, inundadas com frequência pelos rios Paraná e Paraguai, pântanos, florestas bem fechadas, poucas estradas e povoações, no qual os rios eram a principal rota de comunicações.
Terreno ideal para a luta defensiva até nos tempos de hoje, imagina no século XIX. As tropas aliadas, cruzaram o rio Paraná, depois passaram pelo passo da Pátria, não sem enfrentamentos e por fim chegaram a um local relativamente alto para a região, onde havia uma pequena lagoa chamada Tuiuti, ali estabeleceram uma base de operações.
Mapa ( atual) orientativo do local da batalha
Logo ao norte ficava o perímetro defensivo de Humaitá, pequena localidade situada numa grande curva do rio Paraguai. Lopes posiciona ali forte contingente militar para barrar o avanço dos aliados. Os navios de Tamandaré exploravam o rio não sem sofrer ataques da artilharia paraguaia, bem embasada.
Foi quando Lopes vislumbrou uma possibilidade de atacar as forças aliadas, causar muitas baixas e quem sabe a destruição ou forçar as tropas aliadas a recuar, talvez até por fim a guerra. O campo em Tuiuti e cercado de rios que com a época das cheias se espalham pelas planícies circundantes. Entre o acampamento aliado e Humaitá ficava o esteiro Rosas, ao sul o estero( riacho) Bellaco, já palco de outra batalha dias antes. A leste áreas pantanosas e florestas e a oeste a laguna Pires.
O local era cercado de terreno impróprio para manobra, lembre que naquela época as batalhas ainda eram de certa forma travadas em linhas de batalha, quanto os batalhões eram dispostos em linhas e colunas e desta forma atacavam as linhas do oponente.
Pode parecer absurdo, mas o motivo de tais disposições, esta em obter poder de fogo, capacidade de controlar as manobras das tropas. Pense bem, não havia rádio para comunicação, era preciso dar ordens, desta forma os generais podiam por meio de estafetas dar ordens e traçar planos de batalha, com o fim de superar o oponente e quebrar-lho o dispositivo que causava muitas vezes debandada, desorganização e muitas baixas.
Estero Bellaco, é possível ter uma ideia do tipo de terreno e a dificuldade em progredir para uma batalha.
Este foi o lugar onde as tropas aliadas estavam acampadas.
Mas justo esta necessidade, alinhar tropas e manobrar de forma eficiente, foi o tiro no pé das pretensões de Solano Lopez. A aproximação do exército paraguaio foi feito pela mata circundante, por meio de picadas, trilhas, e quando estas tropas surgiram junto as posições do acampamento aliado, causaram a princípio sérios problemas, as tropas da vanguarda, constituídas de uruguaios foram quase aniquiladas.
A lagoa Pires, a oeste do local da batalha.
A investida neste setor foi contida pelas peças de artilharia do Mallet, que prudentemente havia mandado cavar uma fosso a frente de sua posições, onde as armas podia ser usadas com fogo direto sobre a infantaria paraguaia. As tropas do Brigadeiro Sampaio ali mantiveram posição e assim foi em todos os pontos onde os paraguaios emergiam das trilhas da mata.
Mapa da batalha.
O fato das tropas paraguaias não ter formado linha de batalha, justo para obter o elemento surpresa, o ataque conduzido aos bocados a medida que as tropas chegaram ao local, facilitou o serviço da defesa. Mas também a reação adequada e enérgica de comandantes, como Osório, Sampaio e suas tropas que mantiveram o dispositivo coeso, e trataram de contra atacar de forma eficiente os pontos que se mostraram frágeis, evitou o que poderia ter sido um golpe de mestre de Solano Lopez.
Se uma das colunas dos paraguaios, tive-se êxito em romper a linha dos aliados, chegaria ao centro do acampamento, a zona nervosa, desta forma quem sabe mesmo contando com inferioridade numérica, a história poderia ser outra.
Percebe-se hoje ao avaliar o que ocorreu naquele dia, que o fator surpresa que muitas vezes vence batalhas, não teve o êxito esperado, por falta de capacidade de manobra do exército paraguaio, limitado pelas condições de terreno. A pronta reação das tropas e comandantes aliados, não só salvou a situação como também causou muitas baixas nos paraguaios.
A batalha de Tuiuti de certa forma foi o túmulo do melhor das tropas de Solano Lopez, porque depois desta batalha, as demais batalhas foram travadas na maioria das vezes, com as tropas aliadas atacando posições defensivas dos paraguaios. Um sinal para os mais atentos da época, do que seriam as guerras posteriores, que culminaram nas trincheiras da I Guerra Mundial.
Paraguaios, Argentinos, Uruguaios e Brasileiros tombaram em Tuiuti. Pensar na forma com que lutavam, quando na grande maioria das vezes o combate terminava travado no corpo a corpo, demonstra quanta coragem por parte de todos envolvidos.
Monumento no local da batalha.
Também a dificuldade em comandar as tropas espalhadas em áreas amplas, onde a fumaça o barulho, não permitia uma ordem imediata, direta, resalta ainda mais a capacidade dos comandantes militares, sua percepção da situação e sua reação ante o que lhes apresentava em determinado momento. Imagine como seria comandar tropas em meio a um cenário como este, e tomar as decisões certas para quem sabe salvar a sua própria vida, afinal era a guerra.
Bom, fazer um jogo de guerra comparado ao que estas pessoas passaram não é nada. O porque fazer é simplesmente uma questão de gosto, mas também uma forma de lembrar feitos da história comum dos paises envolvidos. Eu gosto dos jogos de guerra, acho incrível joga-los. Enfrentar outro jogador ali na sua frente, em nada remete ao que estes soldados passaram durante a batalha, afinal lá a vida esta em jogo, aqui no jogo apenas a diversão e quem sabe o orgulho pode sair ferido por perder a partida.
Mas para um bom começo, ao criar um jogo com base histórica, reprodução de uma batalha, campanha, guerra, é necessário ter em mãos material histórico, com o qual é possível saber de detalhes e desta fora recriar ou fidelizar o jogo.
Fui muito feliz em contar com a ajuda do Júlio, aliais Júlio Lima Verde Campos de Oliveira, General-de-Divisão da Reserva do Exército Brasileiro, entusiasta e pesquisador da história militar, em especial sobre a pessoa do Brigadeiro Sampaio, ferido durante a batalha, falecido dias depois vitima dos ferimentos. Sampaio para quem não sabe é o patrono da arma de infantaria do nosso exército, junto com seus soldados, foi responsável por muito da vitória aliada nos campo de batalha de Tuiuti.
O jogo esta em desenvolvimento e passa por um redesenho do tabuleiro, aliais mudanças maiores e mais ousadas no que tange criar o sistema, afinal ao ler muito sobre batalhas em linha, reproduzir a dificuldade de comandar é um ponto primordial, e o jogo deve contar com outros mecanismos para criar dificuldades para os jogadores, e desta forma acentuar o valor do comando e decisões.
Vou postar novidades sempre que se fizer necessário, afinal em 2016 serão 150 anos da batalha, nada mais justo que de alguma forma homenagear quem dela participou e quem nela morreu.
Material enviado pelo Júlio para ajudar na pesquisa e desenvolvimento do jogo.
Links relacionados.
Link para a materia anteriormente publicada sobre o jogo Tuiuti.
Link para a Legião de Infantaria do Ceará.
Abraço!
Nenhum comentário:
Postar um comentário